segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O sorriso inocente!


Eu sempre fui uma garota que não se importava com nada, apenas com dinheiro e boa vida. Eu não olhava ao meu redor, eu não via o mundo como eu deveria ver, eu apenas olhava a mim mesma em frente do espelho. As minhas preocupações eram banais, eu só me importava com roupa, cabelo, maquiagem e festas, o resto que se fudesse, eu só me preocupava comigo mesma. Ate minha família não me importava, ela só servia para me dar dinheiro e por mais que eu os desprezasse me amavam como nunca e acreditavam que eu mudaria; e eu ria na cara deles. Eu nunca, nunca acreditei que mudaria, eu pensava que nada seria capaz de mudar o meu jeito, mas um sorriso inocente e delicado mudou completamente o meu mundo de luxuria.
Andando na rua depois de uma festa, esperando meu motorista, avistei um homem na rua e logo fiquei com medo. Ele se aproximou de mim e disse “Um dia você ira dar valor a tudo o que tem, mas esse dia vai ser tarde demais”. E então ele saiu sem falar mais nada e me deixou completamente confusa.
Uma semana se passou e aquele ocorrido já havia sido esquecido e minha ignorância aumentava cada dia que passava.
Voltando da escola em uma quarta feira, uma chuva muito forte começou; corri para debaixo de uma árvore e por lá fiquei, esperando meu amado motorista. Já ficando sem paciência de espera-lo, comecei a ouvir um choro baixinho, mas logo aumentou, olhei para o lado e vi uma criança sentada na calçada chorando aos berros. Não sei o que deu em mim, não me lembro o que senti naquele momento, só me lembro de largar minhas coisas e sair correndo na direção daquela criança. A peguei em meu colo e voltei para a árvore, olhei para aquele rosto pequeno e frágil, peguei suas mãos tremulas e a abracei forte. Alguns minutos depois meu motorista chegou e estranhou aquela maravilha em meus braços, eu apenas disse para ignorar e ir direto para casa e assim ele fez.
Chegando em casa, meus pais começaram a me julgar, dizendo que eu tinha passado dos limites pegando uma criança na rua e levando para casa, sem saber de quem era, sem saber de onde veio, mas eu não estava nem ai, eu não podia deixá-la lá, eu não conseguia. Ignorando meus pais, subi para meu quarto e fui dar banho na criança, era uma menina linda, devia ter seus cinco anos.
Depois do banho, coloquei umas roupas de bebê que eram minhas, as quais minha mãe ainda guardava; coloquei a em minha cama e sentei ao seu lado e fiquei a admirando, tentando pensar porque fiz aquilo, tentando descobrir aquele sentimento que brotou em mim de repente, eu nunca havia sentido coisa igual, não sei se era pena... Não, não era pena é uma coisa que eu sempre tinha das pessoas, mas daquela pequena, eu não tinha pena, acho que era compaixão, uma coisa que eu nunca, nunca senti.
Já era dia quando acordei com o choro da criança, peguei a no colo e tentei acalmá-la e com meu jeito desajeitado de cuidar de criança, não tive muito sucesso, mas logo ela parou de chorar e ficou me olhando, pegou minha mão e sorriu aquele sorriso inocente e delicado.
Uma semana se passou e aquela criança mudou completamente minha vida, eu comecei a dar importância às coisas pequenas, aos sentimentos, a minha família, mas como aquele misterioso homem disse, seria tarde demais quando isso acontecesse.
Meus pais não falaram mais comigo e não olharam nem para a criança, me ignoraram totalmente, começaram a dizer que agora que arrumei uma criança, eu teria que criá-la e sustentá-la sem o dinheiro deles; meus amigos me abandonaram, as festas Vips nem me mandavam mais convites de graça, perdi minha popularidade, eu perdi tudo, eu estava vendo o que era ter nada, aquela criança tinha mudado minha vida, mas para pior e a única coisa que se passava em minha cabeça, era deixá-la onde a encontrei e voltar a ter meu mundo de luxuria.
Não sei o que deu em mim, mas lá estava eu em frente daquela árvore com a criança no colo e decidida a deixá-la ali mesmo. Ela olhava para mim e eu com todo custo tentava evitar aquele olhar que me enfraquecia; me sentei na calçada e a olhei e fiquei fraca, minha decisão tomou outro rumo, minha força se evaporou, minha determinação desapareceu. Então algo me dominou e tudo voltou para mim e com mais força, larguei a criança na calçada, sai correndo sem pensar nas conseqüências, sem pensar no que aconteceria, sem pensar em nada, apenas no meu mundo de luxuria, mas eu nunca o teria de volta.
Chegando em casa, eu me sentia livre, me sentia uma nova pessoa, eu sentia como se eu tivesse feito a coisa certa. Uma semana se passou e tudo voltou ao normal, expliquei o acontecimento para as pessoas e eu sempre dizia que tinha ficado louca, mas já tinha me curado.
Depois de um mês com a minha vida boa de volta, o inferno começou. De noite eu não conseguia mais dormir, o rosto dela vinha em minha cabeça, me fazendo lembrar tudo o que fiz, comecei a imaginar como ela estaria se tinha morrido ou se alguém passou por lá e a acolheu. Fiquei doida pensando na possibilidade dela estar sozinha, sem alguém para dar carinho e amor, sem alguém para alimentá-la. Eu queria ir atrás dela, mas eu não tinha forças para isso, eu não tinha coragem, não queria ser chamada de louca novamente. Tratei de esquecê-la e viver minha vida, sem preocupações, só me divertindo como eu sempre quis e assim eu fiz, ela sumiu de minha vida mais uma vez e eu conseguia meu mundo de luxuria aos poucos.

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